quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Começando o Ano. “Crianças sem segurança no carro”

Esse texto foi escrito por um Pai que não tinha noção que podia estar errado no conceito segurança, nem sempre os braços do pai é  o lugar mais seguro, não quando se está no banco da frente de um carro e sem estar usando o cinto de segurança.

Estou cansando de ver essa postura errada em muitos carros, crianças que são transportadas fora da cadeirinha ou sem cinto, o que mais me impressiona é que precisamos criar leis para convencermos marmanjos do que é mais seguro para ele e sua família. Até que ponto um pai e uma mãe não conseguem ver o perigo que eles estão colocandos seus filhos?

Até que ponto ceder à manha de uma criança é o correto, até onde estamos dispostos chegar para descobrirmos o perigo que nossas crianças estão correndo, vale a pena chegar até o ponto em que não podemos voltar mais, e que se arrepender vai ser sua única alternativa?

Perdão filho

Pais e mais pais se orgulham-se de ter dado a vida a um filho.

Maria e eu também.

De você Marcelo, recebemos só alegria.

Quando nem a caminho você estava, já ficavámos satisfeitos antevendo o dia em que você chegaria.

Quase chorei de alegria quando Maria me informou que estáva grávida!

Era você a caminho, nove meses depois você chegou, feioso nos primeiros dias de nascido, tornando-se aos poucos a própria encarnação de um anjo.

Marcelo é só alegria.

Os primeiros banhos, Maria um tanto sem jeito e eu ajudando.

Aquele sorrizinho de anjo, as visitas ao pediatra, mas Marcelo era só alegria.

Os primeiros brinquedos, os primeiros passos, as primeiras palavras, enroladas é verdade, mas Marcelo é só alegria.

Foi no dia do seu 2º aniversário que aquilo aconteceu.

Logo cedo, felizes, Maria, você e eu a caminho da casa do vovó para a festinha de aniversário, Maria dirigia, eu com você  no colo, sentava-me ao lado dela.

Nos meus braços ("o lugar mais seguro para um filho"), você feliz também estava, tudo via, tudo ouvia,

Marcelo é só felicidade,

De repente, aquele veículo que saia de uma estrada de terra, cortou-nos a frente, Maria, para não bater, saiu fora da pista e foi chocar-se contra o barranco.

Maria atirada contra o volante, eu contra o painel e você Marcelo estava no meu colo.

Eu ainda tentei me firmar para não machucá-lo, mas a força do impacto foi forte demais e fui jogado contra o painel, você Marcelo estava entre eu e o painel.

Lembro-me como se estivesse acontecendo agora, seu corpo de anjo sendo esmagado pelo meu e ao mesmo tempo me salvando a vida, os estalos dos seus ossinhos se quebrando.

Lembro do quase ruído que seu corpinho emitiu ao ser esmagado pelo meu corpo contra o painel.

Marcelo é só tristeza.

Você morreu Marcelo, sua mãe e eu fomos hospitalizados em estado grave e um mês depois saímos do hospital.

Marcelo é só tristeza.

O sentimento de culpa me persegue sempre, nosso casamento acabou e a perseguição continua.

Marcelo é só tristeza,

Hoje você estaria fazendo cinco anos, sinto como se não tivesse partido, depois a realidade...

Marcelo é só tristeza.

Do fundo do negro poço em que estou há três anos, parei para refletir e tomei a iniciativa de escrever esta carta, que nem sei se terei coragem para mostrar à alguém. E me pergunto, porquê Marcelo é só tristeza?

Assistindo a um filme  na firma em que trabalho sobre o uso do cinto de segurança, encontrei a resposta.

Eu e Maria nunca usávamos o cinto de segurança.

O mesmo cinto que vem no carro quando o tiramos novo da concessionária.

O mesmo cinto que todos dizem ser CARETICE usar.

O mesmo cinto que poderia ter salvo a sua vida, pois a minha você salvou.

De uma coisa eu tenho certeza, se Maria e eu estivéssemos com cinto de segurança, você, Marcelo que hoje é só tristeza, ainda seria Marcelo só alegria.

Marcelo, Marcelo, Marcelo, sua vida por um cinto.

Você poderia estar na cadeirinha no banco de trás, Marcelo.

O papai poderia estar usando o cinto de segurança, e Marcelo hoje seria só alegria,

Vou para de escrever para não enlouquecer e finalizo,

Pelo amor de Deus me perdoe filho,

Pelo amor de Deus me perdoe Maria,

Pelo amor de Deus usem cinto de segurança e coloquem as crianças no banco traseiro,

                                                            Ass: Um Pai

Esse texto está na forma original e sem nenhuma modificação para não perder a realidade do sentimento desse homem.

Carlos Rufato

2 comentários:

:: Nanda :: disse...

é um texto forte..mas necessário.
Eu vivo brigando com minhas amigas que tem filhos para nunca os deixarem sem sinto e sem cadeirinha.
beijos

Raquel Cecília disse...

Pois é Carlos, eu presenciei uma batida no final do ano passado quando eu voltava da faculdade. Era sexta feira, as ruas muito movimentadas, e uma pickup pegou uma moto por trás mas não foi um impacto muito forte porque o motorista conseguiu frear bem em cima.

Eu dentro do ônibus, junto com todos os passageiros olhei pela janela e vejo a mãe sentada na frente com um bebe no colo que não tinha mais do que 1 ano e meio. É obvio que não tinha cinto de segurança, e mesmo se tivesse, a criança teria voado longe literalmente numa batida mais forte.

Mas o ser humano tem uma mania desgraçada de carregar em si aquele pensamento mesquinho e com o perdão da palavra: burro, de que "comigo não acontece, só com o vizinho".

Por sorte, ou como eu acredito por Deus, não aconteceu nada grave mas poderia ter acontecido e as chances eram enormes.

No mesmo instante eu deixei escapar meus pensamentos em voz alta "tem gente que não merece ser mãe". Deus que me perdoe, mas uma mãe que coloca em risco o próprio filho dessa forma, dá vontade de dar uns tapas para ver se acorda para a vida.

Enfim... Vim conhecer teu blog depois que li seu comentário, e estou adorando, porque apesar de não dirigir por falta do veículo, eu adoro dirigir!

Achei ótima sua iniciativa abordando esse tema, parabéns!

E por falar nisso... Estes dias estava montando um post para publicar no meu blog, sobre a campanha da Porto Seguro sobre gentileza no trânsito. Assim que eu publicar passo por aqui para te avisar. =^^=

Abraço!